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1 30/08/2017 14:00

"Ainda tem gente que acha que time é tudo igual". Junto a duas fotos, nas quais aparecem torcedoras do Bahia e do Grêmio, a frase é um exemplo grave de racismo e de machismo, na opinião Edna Matos, de 53 anos, diretora do IFBA de Santo Antônio dee Jesus. A montagem, que viralizou pelo Whatsapp nos últimos dias, mostra uma imagem dela e de sua filha, ambas negras, com camisas do clube de Salvador, acima de outra foto, esta com mulheres brancas usando a camisa do time gaúcho.

Edna descobriu essa piada de mau gosto quando a Prefeitura de Salvador criticou a montagem no Facebook. O órgão fez um post para denunciar o conteúdo, cujo autor permanece no anonimato.

— Primeiro, fiquei meio sem entender. Depois, percebi que não era nada engraçado. O sentimento é o mesmo de todas as vezes, por mais que a gente já tenha passado por isso. Senti raiva, depois fiquei triste. Fiquei na dúvida se responderia ou não, mas vi que, além da minha consciência, eu tinha a responsabilidade de responder. Tive o cuidado de não dar ibope para o racismo, quis valorizar minha foto com minha filha — explicou Edna.

Em sua conta no Facebook, Edna ressaltou o orgulho de sua identidade e de fazer parte de uma torcida que carrega e respeita "a beleza das cores do manto e da pele" de seus apoiadores. "Somos NEGRAS, MULHERES e BELAS (nesta ordem de importância). Poderosas! Donas da porra toda, como se diz aqui na Bahia, inclusive do estádio, que naquela hora era só nosso", frisou a diretora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, no campus de Santo Antônio de Jesus.

Sua filha, Dandara Matos, viu a postagem primeiro, mas não revelou à parente nem reagiu nas redes sociais, como normalmente faria. Segundo Edna, a filha argumentou que a mãe saberia responder com mais sabedoria. As duas agora tentam encontrar a origem da postagem para avaliar a entrada de um processo judicial. Como é uma reprodução do WhatsApp, não há identificação do autor da montagem nem se sabe se ele é gremista.

— Isso é crime e precisa ser combatido. O sentimento que mais incomoda é o de impotência. É diferente de quando alguém te agride pessoalmente. Você tem condição de se defender neste caso. Na internet, não tem — lamentou.

'Machismo e regionalismo' na montagem

Além do racismo, Edna vê machismo e intolerância regional na montagem. Sua foto havia sido publicada em uma promoção do Esporte Clube Bahia no Facebook do Dia da Mulher e foi pega no perfil no clube. Ela ainda preferiu não reproduzir a foto das gremistas no Facebook por considerar que as jovens não deram autorização para a montagem.

— Elas são tão vítimas quanto nós, porque elas não devem ter dado autorização para usarem a foto delas. A leitura desta montagem é que as mulheres devem ir ao estádio para enfeitar as torcidas. Uma medida de beleza, uma melhor que a outra, que julga a torcida pela quantidade de jovens e bonitas. Além disso, por que fizeram montagem com o Nordeste? Tem preconceito com o regionalismo também — destacou.

Apesar de ser a primeira vez que sofre racismo no ambiente do futebol, Edna ressalta que é vítima do preconceito "o tempo todo", de forma velada ou não. Diretora de uma instituição federal, a baiana contou que fica mais exposta à intolerância.

— Às vezes a pessoa não tem consciência que é preconceituosa. Se me apresento como diretora e ela toma um susto... Você aprendeu a vida inteira que aquele não é lugar de uma mulher negra. Tem isso, né? Além de negra, eu sou mulher — marcou Edna.

O GLOBO







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