Oito a cada dez pessoas mortas pela polícia em 2019 eram negras segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020. Das 6.357 vítimas de violência policial no ano passado, a maior parte, 99% era formada por homens. O documento, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), levou em conta boletins de ocorrências fornecidos por 23 estados — apenas Acre, Amapá, Amazonas e Rio Grande do Norte não encaminharam dados. No comparativo com o número do ano anterior (6.175), houve um aumento de 2,9% na quantidade de mortos por agentes do estado.
Além da raça, as vítimas de intervenção policial guardam outra semelhança. Três a cada quatro eram jovens, com idades entre 15 a 29 anos:
23,5% tinham entre 15 e 19 anos;
31,2% tinham entre 20 e 24 anos;
19,1% tinham entre 25 e 29 anos.
Em 2019, 74,4% das 39.561 vítimas de homicídio eram negros. O índice sobe, para 79,1% quando o autor do assassinato foi um policial. Para Amanda Pimentel, pesquisadora do FBSP, a matança de negros pelas forças policiais é algo que virou parte da cultura policial.
Segundo o Anuário, a maioria dos policiais assassinados (65%) era preta ou parda. Somente no ano passado, foram registradas as mortes de 172 policiais civis e militares — 62 enquanto trabalhavam. O número pode ser maior, já que o estado de Goiás não apresentou informações, segundo o Fórum.
Para cada policial assassinado no Brasil em 2019, 37 pessoas foram mortas por policiais, de acordo com o Anuário. Como base de comparação, o FBI, nos Estados Unidos, avalia como "aceitável" a proporção de um policial morto a cada 10 civis mortos por policiais. Isso, segundo especialistas em segurança pública, aponta que a polícia brasileira mata mais do que deveria.
Se nas ruas os negros são as maiores vítimas de assassinatos, eles também fazem parte da maior parcela da massa carcerária brasileira. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 755.274 pessoas estavam privadas de liberdade no ano passado. Dessas, 66,7% eram negras e 32,3% brancas. No ano de 2005, o total de presos negros representava 58,4% da população carcerária total naquele ano. *UOL