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1 26/03/2018 16:20

Sob o mito da abundância e como preço de anos de investimento insuficiente, o Brasil desperdiça anualmente 38% do volume de “água boa” — ou seja, tratada e pronta para uso — que deixa as empresas de abastecimento e saneamento rumo às casas e fábricas. Perdas são comuns nas redes mundo afora. Mas o desempenho do país é significativamente pior do que os de Austrália (7%) e EUA (13%), e até mesmo dos de China (22%) e Rússia (23%).
 
O desperdício do valioso recurso natural, em pleno século da escassez, se dá por meio de reservatórios que transbordam e de vazamentos em tubulações de distribuição antigas e mal cuidadas. De acordo com dados da “Conjuntura dos recursos hídricos do Brasil 2017”, da Agência Nacional de Águas (ANA), órgão regulador federal, atualmente 35% das redes do país têm vazamentos significativos.

Não bastassem as deficiências estruturais, o brasileiro ainda tem maus hábitos de uso da água, que os leva a jogar literalmente ralo abaixo parte do dinheiro pago às distribuidoras. Lavar a calçada com mangueira ou deixar a torneira aberta enquanto se escova os dentes, por exemplo, são práticas ainda comuns. E que agravam as condições de abastecimento em períodos de restrição hídrica, como o enfrentado por São Paulo em 2014, ou como ocorreu mais recentemente no Distrito Federal.
 
— A perda é tudo aquilo que foi tratado, colocado na rede de distribuição, mas que ninguém usou, e as concessionárias também não receberam por esse consumo. Tem também a perda comercial, que é fruto de fraudes ou de hidrômetros que fizeram a medição errada — explica Alexandre Lopes, presidente do Sindicato Nacional das Concessionárias de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Sindcon).
 
ÍNDICE DE PERDAS CHEGA A 70% NO AMAPÁ
 
No Brasil, o padrão de desperdício de água é elevado em todo o país. Chega a estratosféricos 70,49% no Amapá, mas tem nos 30,23% de Goiás o mínimo registrado. O Sudeste tem a menor média entre as regiões, 34,7%.
 
Combater esse tipo de desvio depende de investimentos das concessionárias, que nem sempre acompanham as necessidades da rede.
 
— É preciso fazer a medição das vazões por regiões menores, aí se melhora o controle e se consegue fazer a gestão da perda. É preciso saber para onde a perda vai. E é preciso fazer a renovação da rede e a atualização dos hidrômetros, o que deveria ser feito a cada cinco anos — explica Lopes.
 
O grupo Águas do Brasil, que abastece 15 municípios brasileiros, implantou um projeto de modernização e campanhas educativas em Niterói ao assumir a concessão, em 1999. Quase 20 anos depois, tem resultados expressivos: o índice de perdas, que era de 40%, caiu a 16%. A economia seria suficiente para abastecer uma cidade com 150 mil pessoas.
 
Giuliano Dragone, diretor técnico da GS Inima Brasil, que tem concessões em Araçatuba e Ribeirão Preto, estado de São Paulo, afirma que também atua junto às famílias, com educação ambiental, focada nas escolas, e na avaliação permanente dos grandes consumidores. Consumo elevado à noite, por exemplo, é sinal de vazamentos. Ainda assim, diz Dragone, é difícil mudar a cultura do consumidor brasileiro:
 
— Os maiores desperdícios ocorrem onde há uma abundância visível maior de água. Essa visão faz o Brasil ser um dos campeões em gasto desnecessário.
 
Fora das concessionárias também há iniciativas para a redução do desperdício de água. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do estado de São Paulo, por exemplo, tem entregue projetos residenciais com medição individual da água. Em vez de a conta ser emitida para o condomínio, sendo rateada igualmente entre todos os apartamentos, cada residência recebe uma fatura, o que favorece o aumento da conscientização.

O Globo







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